"No último dia 12/04 foi feita uma reunião da BHTrans com os lojistas e moradores da região da avenida Professor Morais para apresentar o projeto de implantação de uma ciclovia que vai passar por toda essa via, continuar pela Bernardo Monteiro, depois pega a Carandaí à direita, depois a Piauí à esquerda, passa pelo Centro de Especialidades Médicas e aí sim, se conecta a outra ciclovia, na Andradas, esta ligando a Praça da Estação ao bairro Boa Vista. São as primeiras ciclovias do projeto Pedala BH: esse ano a promessa é implantar seis, o que ainda é modesto para os pretendidos 150 km até a Copa do Mundo ou os 365 km do projeto inteiro. Já faz uns cinco anos que a BHTrans está prometendo (e adiando) começar a construir essas ciclovias, mas pelo visto agora é pra valer. BH tem pouquíssimas ciclovias, e elas ou estão em ruínas, ou são destinadas ao lazer, como a da orla da Lagoa e a da Andradas. Ciclovias voltadas ao deslocamento são um passo importante se a cidade quer aumentar o uso desse meio de locomoção. E não são a única coisa a se fazer: uma estrutura cicloviária requer ainda estacionamentos seguros para as bicicletas, sinalização, campanhas de conscientização dos motoristas para compartilharem o espaço sem ameaçar o ciclista - afinal, não dá para ter ciclovia em todas as ruas - e até incentivos às empresas para que instalem bicicletários e chuveiros para funcionários que quiserem ir ao trabalho pedalando.
É preciso ficar claro que a ideia, nem a mais utópica, não é a bike substituir todos os deslocamentos feitos por automóveis e outros meios. A bicicleta é adequada para pequenas viagens, de 2-3 km. É ótima para ser combinada com meios de maior capacidade, como o metrô (SP e RJ deixam levá-la fora do pico) ou ônibus (vários lugares implantaram racks na dianteira), para que a ligação casa-estação ou estação-trabalho, geralmente curta, possa ser feita pedalando. E é importante lembrar que a maioria dos deslocamentos feitos por automóveis - quase sempre com uma só pessoa - fica dentro desses 3 km.
Quanto mais facilidades houver para as pessoas usarem bicicleta, mais elas vão se animar. Ninguém aguenta mais perder tanto tempo no trânsito, e qualquer pessoa sabe ou consegue aprender a pedalar. BH tem um relevo um pouco ingrato na região Centro-Sul, mas tem também muitos vales de rios (pense no Arrudas, que vai do Barreiro a Sabará), avenidas sanitárias, um centro (e a Savassi, e Barro Preto, e Funcionários) sem aclives acentuados, e muitos, mas muitos bairros bem planos - vide a região da Pampulha e Venda Nova. Hoje, estima-se, 25 mil pessoas já usam a bicicleta todos os dias. Se houver facilidade, incentivo, educação e informação, esse número pode crescer muito. Não é preciso que todo mundo use bicicleta para tudo, mas todo mundo tem ao menos alguns deslocamentos em que poderia adotá-la. Nem que seja para ir à padaria. Isso já daria um bom alívio no caos em que se transformaram as ruas, além de tirar legiões inteiras do sendentarismo, melhorar a qualidade do ar e salvar uns bons caraminguás em combustível.
Abaixo, o relato do meu amigo Lucas Moreira, que esteve na reunião sobre a ciclovia da Professor Morais:
Fui na reunião ontem. Na verdade, não se tratava de uma reunião, e sim de uma apresentação para lojistas e moradores locais do projeto a ser implantado na região.
Os trabalhos foram iniciados pelo Dr. Ramon, presidente da BHTrans, que apresentou as linhas gerais do projeto Pedala BH e salientou a sua importância para a cidade. Na sequência o senhor Ricardo Lott, assessor da Diretoria de Planejamento da BHTrans, passou a discorrer especificamente sobre o projeto da Ciclovia Savassi. Ele apontou todos os detalhes da execução e mencionou futuras ligações projetadas especificamente para a região.
Após a apresentação alguns lojistas presentes levantaram algumas dúvidas, enquanto outros, já esperava-se, modestas críticas, sobretudo em relação a perda de vagas e/ou alterações do tipo de estacionamento em alguns pontos. Um lojista, de cara, disse que Belo Horizonte não era viável para o trânsito de bicicletas, e que era uma perda de tempo, e dinheiro, fomentar tal modal. O mais bacana foi a resposta do Dr. Ramon que, indiretamente, citando o MTB BH, disse que, uma vez, ao participar de uma manifestação de um grupo de ciclistas na praça da liberdade como convidado, levantou a mesma questão, e acabou ficando surpreso com a resposta dos ciclistas presentes (eu era um deles, rsrs). Além do Dr. Ramon eu também manifestei minha opinião salientando, sobretudo, vários exemplos de cidades "morradas" que fazem o uso da bicicleta em larga escala (São Francisco, por exemplo) e mencionei, também, que apenas a região centro sul tem relevo acidentado e que, ainda assim, isso não atrapalhava o uso da bicicleta - pela questão das marchas, da leveza, enfim, das novas tecnologias que acompanham nossas magrelas.
Outra questão levantada foi a de que motoqueiros (me recuso a falar motociclistas, pois estes não têm este tipo de conduta) poderiam utilizar a ciclovia como faixa de motos. Além dos técnicos da BHTrans terem refutado tal possibilidade informando que haverá intensa fiscalização, e de terem mencionado que "bloquetes" separam fisicamente o espaço das bicicletas e dos demais veículos, acabei dando o exemplo da Nossa Senhora do Carmo que, ainda que não seja 100%, os motoqueiros acabam respeitando a faixa exclusiva de ônibus - e ali nem existe separação física.
Uma coisa bem bacana que percebi foi que os poucos moradores presentes adoraram a idéia. Cheguei a escutar de duas senhoras que, após a implantação da ciclovia, passariam a frequentar a feira das flores de bicicleta (o caminho até lá será todo contemplado), achei massa! Uma outra questionou se não estariam planejando a implantação de um sistema de aluguel de bicicletas como Paris, olha só!!!
O importante é que percebi que a BHTrans e a prefeitura estão realmente dispostos a fomentar o uso da bicicleta como transporte e senti, também, que o MTB BH tem uma parcela de culpa muito grande nisso, deu um orgulho danado. Agora é continuar trabalhando e ocupar os espaços que em breve estarão à disposição de todos nós ciclistas. Afinal, segundo o projeto, teremos, ao todo - sabe-se lá quando, é verdade - 365 km de ciclovias."
*Humberto Guerra é analista de sistemas, mountainbiker e associado/co-responsável do grupo MTB-BH.
*Lucas Moreira é advogado, mountainbiker e criador do grupo MTB-BH.
*O Mountain Bike BH é um grupo formado por ciclistas amadores, de idades e profissões variadas. O que os une é a paixão pela bicicleta, pela natureza, pela aventura, pela solidariedade e por superar desafios. Ao reunir ciclistas de diferentes modalidades, o grupo pretende incentivar a prática do esporte com segurança, proporcionar a troca de informações e experiências, facilitar a compra e a venda de peças e equipamentos, divulgar eventos ciclísticos e, sobretudo, promover encontros para pedalar, na cidade ou em trilhas. Também é preocupação do grupo colocar em evidência problemas ambientais, sociais e de segurança pública relacionados à bicicleta. Para tanto, ele promove mutirões ecológicos (como limpezas de cachoeiras e recuperação de trilhas) e ações beneficentes, e procura cobrar do Poder Público políticas de segurança e de ciclo-mobilidade urbana. O grupo é aberto ao ingresso de quaisquer interessados pela bicicleta e não possui fins lucrativos.
**Foto: reprodução